Sunday, July 29, 2007

Vitamina C não previne resfriados





















Os suplementos de vitamina C, que até algum tempo atrás eram a arma principal contra resfriados, na realidade têm pouco efeito, segundo a análise de 30 estudos publicada nesta semana na última edição da revista científica The Cochrane Library.
Participaram desses estudos, ao todo, 11.350 pessoas, que tomaram pelo menos 200 miligramas da vitamina por dia. A menos que se trate de um maratonista ou de uma pessoa que costuma passar muito frio, é pouco provável que as doses suplementares da vitamina - também conhecidas como ácido ascórbico - ajudem alguém a combater os resfriados comuns, disseram cientistas da Universidade Nacional Australiana e da Universidade de Helsinque. Ou seja, a vitamina C não é vacina nem remédio - não previne resfriados, não encurta sua duração nem ameniza sua força. Os pesquisadores, no entanto, informaram que muitas pessoas submetidas a períodos prolongados de pressão física - como os corredores de longas distâncias, os esquiadores e os soldados em manobras - têm 50% menos de possibilidades de ficarem resfriados se consumirem uma dose diária de vitamina C. Participaram desses estudos cerca de 650 esportistas.
Para a maioria das pessoas, no entanto, o benefício é tão mínimo que não compensa a despesa com o produto. “Não faz sentido consumir vitamina C nos 365 dias do ano para reduzir a probabilidade de um resfriado”, explicou Harry Hemila, co-autor do estudo e professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Helsinque. Consumo difundido A vitamina foi descoberta em 1930. Na década de 1970, o químico americano Linus Pauling popularizou seu consumo, com a publicação de um livro intitulado A Vitamina C e o Resfriado Comum, no qual recomendava um consumo diário de pelo menos 1 grama. Hoje, as autoridades de saúde aconselham um consumo de 60 miligramas. Um copo de suco de laranja, por exemplo, contém cerca de 80 miligramas de vitamina C.
No Brasil, existem várias marcas de suplementos de vitamina C nas farmácias, vendidos principalmente na forma efervescente. Apesar das provas de que seus efeitos são mínimos, a vitamina C ainda mantém sua popularidade. “Muita gente, inclusive financiadores destes estudos, quer acreditar que ela dá resultados”, disse Wallace Sampson, professor de medicina da Universidade de Stanford e um dos fundadores da revista Scientific Review of Alternative Medicine. No entanto, os cientistas prevêem que a vitamina C, em combinação com outras vitaminas e substâncias, pode prevenir e ajudar no tratamento de outras doenças, inclusive o câncer. “A vitamina C não é uma panacéia, mas também não é absolutamente inútil. Pauling foi otimista demais, mas não estava totalmente errado”, opinou Hemila. (EFE e Reuters) Produto acelera reação de enzima Recentemente, uma equipe formada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Butantã mostrou que a vitamina C age indiretamente sobre os radicais livres (substâncias que provocam lesões em moléculas e estão envolvidas no envelhecimento celular).
De acordo com o estudo, publicado em março na revista científica PNAS, a vitamina C acelera as reações de um grupo de enzimas que impedem a formação dos radicais livres. Movimentando-se pelas células, os radicais livres, que são substâncias bastante instáveis porque têm um número ímpar de elétrons, tentam desesperadamente se ligar a uma outra molécula. Os alvos preferenciais são DNA e proteínas, que acabam sofrendo lesões após essa união e se tornam disfuncionais. O resultado são doenças dos mais diversos tipos. Esse estudo brasileiro faz parte das pesquisas que mostram as ações positivas da vitamina C no organismo.
Mas seus efeitos sobre a saúde estão longe de um consenso. Além da investigação divulgada nesta semana mostrando que o suplemento não tem efeito sobre a população em geral, existem pesquisas que alertam que, em altas quantidades, pode até ser maléfico.


Fonte: O Estado de São Paulo
23/07/2007